O VELHO PROBLEMA CONTINUA NOVISSIMO

Lendo artigo ainda recente (domingo, 28 de outubro) de Paulo Camargo na Gazeta do Povo, Caderno G (Diversidade na tela grande), constatei algo que sempre soube e que irrita qualquer cristão ligado a cinema. Ele diz que a produção nacional gira hoje em torno de 70 a 90 longas anuais, mas que poucos filmes conseguem se destacar, ou melhor dizendo, conseguem ser vistos, em exibições normais na telona. Tanto esta reportagem como dezenas de outras que foram escritas anteriormente ao longo dos tempos, recrimina geralmente os lançamentos americanos, as redes distribuidoras que enchem suas salas com os filmes de Tio Sam, não dando lugar ao filme nacional. Explica Paulo que muitos filmes são feitos com recursos públicos das leis de incentivo cultural e que mereciam melhor sorte.
 
 
Concordo em parte, mas ressaltando que a grande maioria destes filmes são verdadeiras “malas sem alça”, chatíssimos (vide "Eu Sei que Vou te Amar" foto acima) e não merecem mais do que algumas cópias para exibição em salas (pequenas) dedicadas aos chamados filmes de arte. Mesmo os bons filmes de arte devem ficar restritos a estas salas, que deveriam existir em cada multiplex aberto. Desta maneira acabariam as queixas dos cinéfilos e da “inteligentzia” das cidades. Eu acho até que Curitiba é bem servida neste sentido com os enganosos cinemas do Shopping Cristal administrados pelo Itaú e pelas iniciativas certeiras dos cinemas do Shopping Batel, além da Cinemateca. A Cinemateca e os cinemas do Batel tem trazido ao público obras maravilhosas de várias nacionalidades e no caso da sala da Fundação Cultural nada mais certo do que abrir espaço para os filmes de arte nacionais. No espaço do governo, filmes geralmente patrocinados com dinheiro do governo. Certo? Certíssimo! Errado foi a Fundação Cultural de Curitiba ir perdendo os outros cinemas que possuía (Ritz, Luz) por descaso e falta de cuidados com os contratos que mantinha com os proprietários das áreas. Espero que Gustavo Fruet na Prefeitura consiga transformar o antigo quartel da Rua Riachuelo em salas de exibição como tanto se tem falado e não aconteça ali o que aconteceu com o Centro Cultural do Portão em cujas dependências o Cine Guarani voltou a funcionar levando pouquíssimos espectadores às sessões. Ali está ocorrendo um erro tremendo de marketing. O local não é o ideal para filmes de arte. A programação deve ser popular. De qualidade, mas popular, que atraia os mais humildes e os mais abastados. Na Riachuelo, dentro do propalado centro histórico sim, devem voltar a funcionar os cinemas de rua da Fundação com os filmes cult, de arte e muito, muito cinema nacional, dando a oportunidade aos realizadores “experimentais” de verem suas obras na telona. Está na hora da “inteligentzia” das cidades se conscientizar de que cinema é arte, mas também diversão cara para ser viabilizada. Na área de negócios do Festival do Rio 2012 o assunto foi discutido. Representantes da Paramount, Freespirit, Sony Pictures, Fox e Disney abordaram rumos do cinema nacional e deixaram claro que faltou (pelo menos no ano) algo que chamasse mais a atenção do grande público. Disseram que o cinema só não vai crescer mais em comparação com outras épocas “em função do fraco desempenho do cinema nacional”. E eles tem razão. Não “cola” mais o discurso de que o culpado pelas poucas rendas dos nacionais é problema dos estrangeiros, que ocupam as salas. Basta haver coisa interessante e bem feita para o publico correr às salas. Bruno Wainer da Freespirit Filmes foi claro: “Produzimos cerca de 100 filmes anuais mas somente 8 ou 10 são competitivos”. Esta história se repete desde os anos 60. UFA! Mais de 50 anos reclamando das mesmas coisas. Quando eu mantive (anos 60 e 70) distribuidora em Curitiba e cinema de arte (Riviera) escutava as mesmas coisas mas com argumentos ainda mais chocantes. Para vocês terem uma idéia: Comprei os direitos de uma fita chamada “Fantastikon os Deuses do Sexo” em 1970, dos diretores Teresa Trautman e José Marreco. Como o título era chamativo, apesar da obra ser uma porcaria total, consegui com a Fama Filmes na época (João Aracheski, Zonaris e companhia), lançamento no Cine Rivoli (hoje uma loja de departamentos). Tinha direito a 50 por cento da bilheteria mas eles formavam praticamente uma máfia de exibição e tive que aceitar ilegais 40 por cento. O filme estourou nas bilheterias em sua primeira semana e programaram a continuação das exibições (com menor porcentagem ainda para mim). E então não rendeu mais nada pois na verdade só tinha de chamativo o título, de sexo quase nada. Assim agiam e ainda agem os distribuidores e exibidores. Títulos atraem; títulos iludem.
 
 
Os donos de cinema brigavam para exibir um filme do Mazzaropi mas passavam ao largo ao serem obrigados a exibir obras de “arte”. Nos anos 50 e 60 as “ditas chanchadas” feitas com nossos comediantes eram disputadas pelos donos de cinema e eram dirigidas por grandes nomes da dramaturgia nacional, muitos deles até hoje na ativa como Carlos Manga ou Silvio de Abreu. Filmes com Oscarito e Grande Otelo, Ankito, Zé Trindade, Costinha, a grande Derci Gonçalves e tantos mais eram esperados pelo público com ansiedade que deixava de lado os grandes astros americanos ou europeus para lotar as salas de exibição que traziam “nossa gente”. Um pouco depois daquela época “Todas as Mulheres do Mundo” de Domingos de Oliveira com Leila Diniz tornou-se um sucesso sem precedentes. Um filme bem feito, comédia bem tratada e interpretada que nada ficou devendo a dezenas de estrangeiros. Em 1985, o pretensioso e enjoativo “Eu Sei que Vou te Amar” (foto 1- divulgação) do hoje comentarista da Globo, Arnaldo Jabor, com uma jovem, bela, sensual e talentosa Fernanda Torres enterrou os cinemas aonde foi exibido. Um filme chato, detestado pelo público. Só para confirmar minhas palavras veja os filmes de maior público do cinema nacional até hoje – segundo o site Filme B) e compare com tudo que foi dito aqui: “Tropa de Elite 2” (mais de 11 milhões de espectadores); “Dona Flor e Seus 2 Maridos” (mais de 10 milhões); “O ÉBRIO” com Vicente Celestino e rodado em 1946 (mais de 8 milhões); “Casinha Pequenina” e “Jeca Tatu” com Mazzaropi (mais de 8 milhões importante frisar que todos os outros filmes do comediante foram bem nas bilheterias); A Dama do Lotação (mais de 7 milhões); “Se Eu Fosse Você 2” (mais de 7 milhões); “O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão ( mais de 6 milhões – todos os filmes dos Trapalhões foram bem em bilheteria); “Lúcio Flávio o Passageiro da Agonia” (mais de 5 milhões); “2 Filhos de Francisco” (mais de 5 milhões de espectadores). Se um pretenso cineasta consegue aprovar projeto, experimental ou não, com verbas públicas, deve ter em mente que, ou faz algo de qualidade para atingir um público grande e desta maneira conseguir grandes circuitos de exibição ou faz o que sua mente bolou e transforma o projeto em algo para poucos, dessa maneira ficando com as salas pequenas e (no interior do Brasil) quase inexistentes. Afinal, o público tem o direito de ir ao cinema e escolher o filme que deseja assistir. Isso não justifica importar bombas, porcarias sem qualidade, mas não obriga também os exibidores a exibirem bombas, ditas “de arte”. Nos anos 50 e 60 havia reserva de mercado que até hoje é discutida e nada resolve...Tudo tem sua hora e lugar... Vamos fazer filmes de qualidade mas que consigam atingir o grande público...

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